destinado à escrita poética que se estende em reflexões sobre arte e cultura, além de divagações e pensamentos sobre projetos artísticos pessoais
quarta-feira, 22 de outubro de 2008
Elisabeth Bishop
A arte de perder não é nenhum mistério;
tantas coisas contêm em si o acidente
de perdê-las, que perder não é nada sério.
Perca um pouquinho a cada dia. Aceite, austero,
a chave perdida, a hora gasta bestamente.
A arte de perder não é nenhum mistério.
Depois perca mais rápido, com mais critério:
lugares, nomes, a escala subseqüente
da viagem não feita. Nada disso é sério.
Perdi o relógio de mamãe. Ah! E nem quero
lembrar a perda de três casas excelentes.
A arte de perder não é nenhum mistério.
Perdi duas cidades lindas. E um império
que era meu, dois rios, e mais um continente.
Tenho saudade deles. Mas não é nada sério.
- Mesmo perder você (a voz, o riso etéreo
que eu amo) não muda nada. Pois é evidente
que a arte de perder não chega a ser mistério
por muito que pareça (Escreve!) muito sério.
segunda-feira, 29 de setembro de 2008
Joaquim Maria...
Cem anos sem Machado. Nada de melancolia ou sentimentalismos forjados. Machado não gostaria de nada disso. Apreciaria, antes, a leitura contumaz de seus livros e a perpetuação do seu olhar crítico sobre o mundo. Assim, penso, é reviver o escritor, que, autodidata, e do alto do Morro do Livramento, desceu rumo a Academia, a qual ele próprio iria fundar. Cem anos sem Machado são cem anos com Machado - e com todas as personagens emblemáticas que fazem, hoje e sempre, parte da mais alta estirpe da nossa literatura.
A prosa elegante, perceptível na economia e na objetividade do estilo (genéricamente realista), trabalhada sem deixar de exigir minúcia e profundidade, a ironia fina, o olhar arguto e mordaz acerca da natureza humana. E o tratamento mais que especial - sem perder de vista o tom crítico, claro, sempre - daquela cidade do Rio de Janeiro século-dezenovista da Rua do Ouvidor, do Passeio Público, de Botafogo, de Laranjeiras, da Gamboa, enfim... Machado, que também era Quincas, como um de seus mais célebres personagens . Joaquim Maria Machado de Assis, imortal pelo que criou e pelo que deixou como legado.
Escrevo este texto com ânsia de ainda lê-lo mais.
domingo, 28 de setembro de 2008
quarta-feira, 24 de setembro de 2008
Porque só dela é que posso sair algo novo.
Por isso acho sempre que não acho
Para ver se me acho
Aonde saberei que não sabia.
Filosofia.
É me achando vazio que
intuitivamente, mais que em movimento, ajo
e já, tão logo, de repente,
me descubro de algo novo preenchido.
Izak Dahora
Continuarei escrevendo versos para você, minha cara.
E não haverá entre nós de ser o tempo na sua divers(idade) clara
A tornar menos críveis nosso sentimento, nossos encontros.
Farei como este todos os poemas lembrarem de ti,
Buscarei palavras, sondarei enigmas
Que te possam justamente definir.
Embora tão ampla seja de si mesma você.
Izak Dahora
terça-feira, 16 de setembro de 2008
Eu ignaro talvez até de mim, do meu próprio eu desnudo
Como um corpo sem sentido nem conteúdo.
E foi então que o mundo me achou, e descobriu-me
e me abraçou com violência
-toda a violência do mundo!
Tanta que não tive força para dele me desgarrar.
Meu corpo calou no abraço mudo,
Faltou a voz e o meu peito gritava surdo.
Tanto quis
E tive como resposta a chaga, a miséria, a ignorância.
Queria descobrir o mundo
Só que agora, um tanto ou quanto mais maduro,
Percebo que o que descobri, na verdade,
De Tudo,
É que fantasiava eu tudo.
E que o mundo, docemente atroz,
Me estava sendo sincero
Mais do que eu próprio.
Eu, cego que estava de no meu mundo crer.
E por instantes com o Mundo, todo em meus braços,
Impelido por cena e símbolo ao sentimento maternal da Virgem
[tal qual na Sagrada Escritura]
Quis enxergar o mundo com dó e idealização
Quando o que tinha, na verdade,
e mais do que tudo,
era a verdade crua do mundo.
terça-feira, 9 de setembro de 2008
segunda-feira, 8 de setembro de 2008
MAIS MAIAKÓVSKI!!!
(...)
Ressuscita-me
ainda que mais não seja,
porque sou poeta
e ansiava o futuro
Ressuscita-me
lutando contra as misérias do cotidiano.
Ressuscita-me
por isso.
Ressuscita-me
quero acabar de viver o que me cabe,
minha vida
para que não mais existam amores servis
Ressuscita-me
Para que ninguém mais tenha
que sacrificar-se por uma casa, um buraco
Ressuscita-me
Para que a partir de hoje
a família
se transfome
e o pai
seja pelo menos o Universo
e a mãe
seja pelo menos a Terra.
MAIAKÓVSKI
BRILHAR COMO UM FAROL
BRILHAR COM BRILHO ETERNO
GENTE É PRA BRILHAR
QUE TUDO O MAIS VÁ PRO INFERNO
ESTE É O MEU SLOGAN
E O DO SOL
domingo, 17 de agosto de 2008
quarta-feira, 13 de agosto de 2008
Coisas Ciosas
um gosto-desgosto,
um sem-sentido constrangido
que faz finda toda a festa da vida.
e reanimar-se como
diante do mistério da vida
sobrepondo o lado podre de nós?
lado podre
pulsando vida, arfando vontade...
e de repente,
são coisas sutis
que fazem lembrar que em tudo,
na vida,
há o sangue, o fim, a inércia, a fome...
o medo e o desejo
convivendo dentro de um só corpo.
vem
o vômito
a digestão
o cuspe
o excremento
o vazio.
matando beleza.
tragando querer.
finda a beleza.
não há lirismo nisso.
são cios sãos,
são coisas vãs.
angústias e indícios:
a morte lenta
(das pequenas grandes tragédias anunciadas que sempre hão de vir).
Izak Dahora
Em teus braços como nunca dantes
Se dissesse agora
Que te amo?
Que me amas, em resposta?
Ou a volúpia da caprichosa alma feminina
Omitiria o teu segredo?
Saiba, amor,
Hoje, teu silêncio
É meu degredo.
Mas minha nau
Independente da tua resposta singular
Precisa partir – e rumo a mundos distantes...
Porém, não minto, muito mais feliz
Se, ao meu apreço, consoante
Dentro dela tu fosses.
E então com a fúria de nossa paixão,
Ela, agora nossa nau, muito mais pronta
A vencer moinhos, tormentas, batalhas cruentas...
A cruzar os mares,
Contornar périplos
E atingir enfim a façanha
do nosso Novo Mundo:
um mundo de sonhos e carícias
erguido a suor e sangue do meu, do nosso corpo.
E sendo então a nossa vida assim,
Mastrearia eu flâmulas
com tua face e nome.
À qual vivacidade o mundo em oceano nunca destoa
Meu leme, minha gávea, minha proa.
Izak Dahora
Verso para Daniela
é verso onde ela possa dançar.
Um pedaço de chão repleto de brilho.
Assim é a teia de palavra, poesia
na qual ela possa lançar-se, cair.
Meu verso,
Porque seu rosto fora desenhado
senão para ela sorrir,
O pranto não admite:
É só corpo valsando tema não triste
Allegro, Allegreto
Vivace, Minuetto
Prestíssimo, talvez – ma non tropo
fazendo do poema, dela refúgio,
uma fuga, uma rapsódia
uma canção.
A necessidade de beleza dela
que ora aqui impera
cura o poeta,
o mesmo que, estendendo o poema feito um tapete,
sobre o qual além dela bailar distintamente
possa ela mais que simplesmente caminhar...
possa existir, possa viver...
Meu verso para ela – Daniela -
é verso onde possa dançar
atuar
representar (o seu papel)
com sua pele macia
e seus pés delicados
tal qual bailarina.
Izak Dahora
domingo, 10 de agosto de 2008
Cômodos (sem modos/ cem “comos”)
Onde deito, durmo e sonho, amanheço e vou à luta,
Colcha-de-retalhos,
Interior dentro do qual cada átomo de ar
é vestígio e sombra de um papel qualquer picado, revoado.
Pilhas volumosas de jornais, calhamaços,
anotações de guardanapos, poeira fina, culta e
alérgica de papéis já amarelados.
Lugar onde me sei e me acho,
Bagunça organizada de minha criação caótica,
Poder paralelo...sou Deus!
Onde faço da doce alcova branca
paredes tintas, sujas e repletas, contemporâneas...
Um todo lar - apertado porém.
É sala, cozinha, varanda, banheiro, quintal...
Torrente dos modos que brotam de mim, abissal.
Teatralidade dos gestos que concretizam as minhas idéias
É palco, é piração, é representação – e sem público pagante.
Quarto-escritório, zona de manifestação do eu vagante,
Território de concentração, nicho, um canto de guerra meu!
Ante-sala, anti-sanidade,
lençol, verso e cama... toda poesia que há na vulgaridade,
orgia intelectual
Todos os cômodos;
todos os modos;
todos os “comos”;
os cômodos sem modos.
Onde haverá sempre o que fazer e por fazer,
estúdio, ateliê.
Área microscópica e antenada, microcosmo do mundo.
Verdadeiro muquifo abandonado
este meu poema quarto-e-sala, conjugado.
Conjugado de lembranças, sustentado por projetos,
permeado de esperanças.
A “casa” é minha.
O poema é meu.
sábado, 9 de agosto de 2008
Vida Viável
Aprofundar a vida
Penetrá-la cortante e sair dela
Ir
Ir até além
Até além infinito
E não precisar voltar.
Passagem sem regresso;
Carma sem reencarno.
A vida solo e entregue como a agulha
que pede para ser antes mirada no escuro – mas não sem convicção -
para então - depois de conduzida ao bordado iniciado do tecido curto do tempo - aprofundada,
atando ponto firme em cada lugar, amigo, amante;
vida deliberadamente errante,
que por entender não ser ciência exata a Vida,
acerta ao optar pelos momentos da indizível emoção e pela dor do impacto.
E tudo sem precisar ser Baco!
Mas como forma de deixar os rastros
no sentir do gozo legítimo do corpo e da alma...
Vida com vontade de fazer,
Vida que desatina sem ter medo de doer.
A vida sem precisar prestar satisfação, simples por ter sido ela honesta
e por ter feito de cada criatura um irmão.
Vida que o Destino, admirado, não refuta nem ousa dizer “não”.
Vida única, sem replay, do “quem viver verá”, do espetáculo que morre a cada noite
e qual flor, qual ave-Fênix, renasce majestosa na manhã seguinte.
A vida em via tortuosa de desesperados que, acima de tudo, amam viver.
terça-feira, 5 de agosto de 2008
Estando
segunda-feira, 28 de julho de 2008
Revivendo a figura!!
sábado, 26 de julho de 2008
De novo!!!
Ainda Ela!
quarta-feira, 23 de julho de 2008
ESCAVANDO O ÓBVIO: reflexões um tanto radicais e não-definitivas acerca de um grande tema!
mas todo esse papo cabeça muito tem a ver com o ofício do artista - pelo menos eu acho e era aí onde queria chegar. o convencimento e a opção de que o simples é o caminho para se atingir a flor da sensibilidade e de que o meio econômico de técnica e emoção são os canais para que nossos corpos de atores, bichos-de-teatro, sejam atravessados pela grande arte nos seus instantes de presença generosa - e não nós nela, como já dizia Stanislavski.
nós nascemos e as idéias já estavam aí. é platônico isso! o que temos a fazer, portanto, é experimentá-las! Elas - e a própria vida - não nos pedem para serem deletadas e para o lugar delas criarmos outras. Não precisamos ser os Originais ou mirabolantes, isso deixemos para os cientistas que trabalham ardorosamente à busca da fórmula contra o câncer, contra a aids... - se é que essas fórmulas já não estão dispersas na natureza, só que de forma oculta. se até os sentimentos aqui já estão e não mudam ao longo dos tempos, e se repetem repetem repetem, ai ai o amor!, cabe a nós artistas, atores, buscarmos entendermos a vida, cada dia, sem a arrogância e a presunção de inventar. nosso trabalho deve ser, então, me parece, procurar a chave - se grande ou pequena não sei - que nos dará o acesso à revelação das profundezas do ser(momento de revelação esse não absoluto ou definitivo, é claro, mas que toca e muitas vezes avassala o humano). e não deixaremos de ser criadores ou seremos menos criadores por causa disso.