vasculho
o baú da Língua.
procuro
uma palavra e não acho.
palavra
que não sei mas que intuo ser-tradução
da
solidão ímpar neste mundo.
com
ares de culta pressinto-a bela, e exótica,
e
por não andar nas bocas comummente
sinto-a
forte, frágil, pura e indecente
na
sonoridade estranha, na ortografia caótica
de
vogais e consoantes
e
consoantes
e
consoantes dissonantes
preenchendo
o vácuo entre os órgãos talvez lá
esteja ela
esteja ela
nas
solidões que compõem os hiatos entre minhas carnes
fazendo
música!
provavelmente,
caso
realmente exista,
vocábulo
eternamente estrangeiro para mim,
já da alma da linguagem
expatriado e emudecido
já
bem articulada pelas mandíbulas,
prevejo
o gozo com ela, a palavra,
percorrendo
suas sílabas e elas me percorrendo
difíceis
mas suculentas
pelo
vasto e inculto céu da minha boca.
procuro
uma palavra
palavra
de fé, palavra-chave
palavra
trágica que se abata sobre mim
palavra
alada que chegue ao outro expressão de mim.
e devastado
vasculho o baú da Língua.
e,
de repente, a palavra-Prima
(ou irmã, mãe, enteada...)
(ou irmã, mãe, enteada...)
está
além do verbete
é
um futuro ainda impronunciável roçando
entre
a língua e os dentes
numa
extensão da luta, palavra-bruta, do pensamento
aos
dicionários, filólogos bibliófilos e poetas!
às
confrarias, academias, botequins filosóficos, sociedades secretas!
aos
saraus dos confins, aos serafins!
aos
dialetos, línguas vivas ou mortas, gregos e latins!
procuro
e não acho...
neologia.
Izak Dahora
Izak Dahora
Um comentário:
Lindo!!!
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