quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

a invenção da palavra


vasculho o baú da Língua.
procuro uma palavra e não acho.
palavra que não sei mas que intuo ser-tradução
da solidão ímpar neste mundo.

com ares de culta pressinto-a bela, e exótica,
e por não andar nas bocas comummente
sinto-a forte, frágil, pura e indecente

na sonoridade estranha, na ortografia caótica
de vogais e consoantes
e consoantes
e consoantes dissonantes
preenchendo o vácuo entre os órgãos talvez lá
esteja ela
nas solidões que compõem os hiatos entre minhas carnes
fazendo música!

provavelmente,
caso realmente exista,
vocábulo eternamente estrangeiro para mim,
                                        já da alma da linguagem expatriado e emudecido

já bem articulada pelas mandíbulas,
prevejo o gozo com ela, a palavra,
percorrendo suas sílabas e elas me percorrendo
difíceis mas suculentas
pelo vasto e inculto céu da minha boca.

procuro uma palavra
palavra de fé, palavra-chave
palavra trágica que se abata sobre mim
palavra alada que chegue ao outro expressão de mim.

e devastado vasculho o baú da Língua.
e, de repente, a palavra-Prima
(ou irmã, mãe, enteada...)
está além do verbete
é um futuro ainda impronunciável roçando
entre a língua e os dentes
numa extensão da luta, palavra-bruta, do pensamento

aos dicionários, filólogos bibliófilos e poetas!
às confrarias, academias, botequins filosóficos, sociedades secretas!
aos saraus dos confins, aos serafins!
aos dialetos, línguas vivas ou mortas, gregos e latins!
procuro e não acho...

neologia.


Izak Dahora

Um comentário:

cecilia rangel disse...

Lindo!!!