Hoje, dia dois de dezembro, dia nacionalmente dedicado ao samba, este monumento da nossa cultura cuja matriz descende de África, continente tão sofrido por contingências históricas quanto surpreendente e criativo por paradoxo e alguma espécie de resistência e teimosia, fico - por motivos óbvios - com os versos inspiradamente poéticos de duas canções de Nelson Cavaquinho e Guilherme de Brito.
Presença agônica da morte e da melancolia chorando ao violão, marcas permanentes na obra de Nelson Cavaquinho, um poeta do povo. Reparem na presença constante, também, na maneira como o eu-lírico na letra de cada canção se auto-define como poeta, algo quase como, a um só tempo, exercício de confissão e metalinguagem, de maneira simples, sutil.
"Em Mangueira
Quando morre um poeta
Todos choram
Vivo tranquilo em Mangueira porque
Sei que alguém há de chorar quando eu morrer
Quando morre um poeta
Todos choram
Vivo tranquilo em Mangueira porque
Sei que alguém há de chorar quando eu morrer
Mas o pranto em Mangueira é tão diferente
É um pranto sem lenço
Que alegra a gente
Hei de Ter um alguém
Pra chorar por mim
Através de um pandeiro e de um tamborim"
(Pranto de poeta)
"Quando eu piso em folhas secas
Caídas de uma mangueira
Penso na minha escola
E nos poetas da minha estação primeira
Caídas de uma mangueira
Penso na minha escola
E nos poetas da minha estação primeira
Não sei quantas vezes
Subi o morro cantando
Sempre o sol me queimando
E assim vou me acabando.
Subi o morro cantando
Sempre o sol me queimando
E assim vou me acabando.
Quando o tempo avisar
Que não posso mais cantar
Sei que vou sentir saudade
Ao lado do meu violão
Da minha mocidade"
Que não posso mais cantar
Sei que vou sentir saudade
Ao lado do meu violão
Da minha mocidade"
(Folhas secas)
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