Meu quarto, meu campo de batalha,
Onde deito, durmo e sonho, amanheço e vou à luta,
Colcha-de-retalhos,
Interior dentro do qual cada átomo de ar
é vestígio e sombra de um papel qualquer picado, revoado.
Pilhas volumosas de jornais, calhamaços,
anotações de guardanapos, poeira fina, culta e
alérgica de papéis já amarelados.
Lugar onde me sei e me acho,
Bagunça organizada de minha criação caótica,
Poder paralelo...sou Deus!
Onde faço da doce alcova branca
paredes tintas, sujas e repletas, contemporâneas...
Um todo lar - apertado porém.
É sala, cozinha, varanda, banheiro, quintal...
Torrente dos modos que brotam de mim, abissal.
Teatralidade dos gestos que concretizam as minhas idéias
É palco, é piração, é representação – e sem público pagante.
Quarto-escritório, zona de manifestação do eu vagante,
Território de concentração, nicho, um canto de guerra meu!
Ante-sala, anti-sanidade,
lençol, verso e cama... toda poesia que há na vulgaridade,
orgia intelectual
Todos os cômodos;
todos os modos;
todos os “comos”;
os cômodos sem modos.
Onde haverá sempre o que fazer e por fazer,
estúdio, ateliê.
Área microscópica e antenada, microcosmo do mundo.
Verdadeiro muquifo abandonado
este meu poema quarto-e-sala, conjugado.
Conjugado de lembranças, sustentado por projetos,
permeado de esperanças.
A “casa” é minha.
O poema é meu.
Um comentário:
Isaac, adorei o poema!! Muito gostoso ler a grande brincadeira com as palavras. Voltarei aqui mais vezes! Estou lendo Fernando Pessoa, O Livro do Desassossego. Conhece? Muito "desassossegante", hahaa, e tem me inspirado também. Bjs!
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