o dia em que o Rio virou rio
o dia em que o Rio de Janeiro virou um rio
ou correnteza em que barcos navegavam errantes
pelas ruas do Jardim Botânico à Praça da Bandeira.
pensei ter-se cumprido em prenúncio a profecia maia
de que o planeta seria consumido pelas águas.
2012 antecipar-se-ia. E o Rio iria. Nunca mais.
recordei e bendisse, uma vez mais, Chico Buarque
em seu lírico cenário de futuros amantes
e quase fui um esfrandrista que cruzou a nado a cidade
rumando de uma longínqua Taquara zona oeste,
a Baía de Guanabara atravessando em busca de seu abraço
em Niterói.
o dia em que o Rio de Janeiro virou um rio de abril,
depois das águas de março,
dia 6 de abril, quase o dia da mentira.
Rio,
que nas suas águas um dia lembrou o Tejo,
era a miséria urbana de grande monumento falido.
o dia em que a Lagoa virou poça diante do quase mar que era a cidade
rodeada pelos lagos que eram Gávea, Botafogo e Humaitá.
Ilha Grande nem pensar!
da água barracenta deslizada dos morros assoreando esgotos
pensei que iríamos ao fim, no fundo, junto ao líquido venenoso dos ratos rotos.
estávamos ilhados, semi-Ulisses multiplicados,
e em derredor a cidade deserta de água e chuva.
oásis sinistro, balneário transbordado.
o tempo virou
e os cariocas viraram nos botes.
toque de recolher para dentro das casas, apartamentos e automóveis.
eu, refém-novo da tecnologia, twittando qualquer coisa:
quando as ruas eram rios,
procurando nisso tudo, a ver navios,
qualquer notícia de você.
P.S.: Um dia, este dia,
por uma força íntima e otimista,
será apenas um conto fantástico nas imaginações.
(Izak Dahora)
Um comentário:
eis uma parte de Sampa que vc tb nao conheceu...o caos pluvial que se instaura em questao de poucos minutos.Aqui ja eh rotina, infelizmente.sera que Sampa nao merece tb um texto tao bonito?ou mts textos para mt chuva?
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