Já escrevi por aqui que flerto de modo contumaz com o passado. Escrevi isso ao narrar minhas lembranças do Carlos Manga, que partiu recentemente, figura que, aliás, dirigiu grandes sucessos do meu homenageado deste texto, Grande Otelo.
Mas minha referência a Otelo como alguém do passado é tão-só porque ele, quando nasci, viveria apenas cinco anos mais. Apenas por isso. Passei toda minha infância ouvindo memórias de infância do meu pai (principalmente) e da minha mãe sobre suas atuações em shows e em programas de TV. No início da adolescência, contudo, e felizmente, eu mergulharia de vez na obra desse grande artista. E viva o Canal Brasil, que com seu acervo, deu-me a possibilidade de assistir a Otelo ao lado de Oscarito nas "chanchadas" da Atlântida e muitos filmes mais. Otelo trabalhou em outras daquelas produtoras da época, como a Herbert Richers, onde fez, dentre outros trabalhos, "Um candango na Belacap", que é um dos meus filmes prediletos com o ator, filme do querido Roberto Farias (por quem também fui dirigido, assim como por Manga. Que sorte eu tenho!). Neste filme do início da década de 1960 (fase derradeira das chanchadas) e que tem a construção de Brasília como pano de fundo, Otelo está impagável, maduro e pleno de seus recursos. Seu número com a uruguaia Marina Marcel sobre "preto com loira" é formidável! Uma eficiente e divertida parceria de Otelo com o e acrobático Ankito. Otelo estrelou muitos filmes e efetivou nas telonas um esquematismo da comédia (no teatro e no próprio cinema): as duplas. Oscarito, Ankito e também Ronald Golias foram seus parceiros, com destaque inigualável para o primeiro.
Eu descobria Otelo e o queria ver mais e mais na tela do Canal Brasil como quem é fã e contemporâneo de um determinado artista. Por isso não faz mesmo sentido considerá-lo alguém do passado: a referência de Otelo me é fundamental, fui (e sou) nutrido por aquele artista múltiplo e de uma possibilidade ímpar em cena: para além de cômico, foi um especial ator dramático, como em "Rio Zona Norte", de Nelson Pereira dos Santos, drama modelar de um sambista do morro, talentoso e pobre explorado pelo sistema; maleável e com a experiência do subestimado teatro de revista deslocava-se em cena com a agilidade de um dançarino (que era); cantava; compunha ("Vão acabar com a Praça Onze", parceria com Herivelto Martins); e em "Assalto ao trem pagador", outro filme do já mencionado Roberto Farias, um clássico do cinema brasileiro, atual até o presente 2015, e no qual há uma cena que me emociona toda vez a que assisto - quando o personagem de Otelo, um morador do morro, integrante da facção criminosa que rouba o trem pagador, fala sobre a miséria de quando se morre uma criança no morro. Aquilo é de chorar e sai da boca de um ator tragicômico interpretando um bêbado embriagado de lucidez e de olhos comovedoramente esbugalhados.
Ao longo da adoslescência fui caminhando no teatro e conhecendo a história do Otelo dos palcos, figura importante no teatro de revista e no entretenimento, no show-business; da Companhia Negra de Revistas do empreendedor Jardel Jércolis ao lendário cassino da Urca. Um artista múltiplo (que cantava óperas, financiado pela tutora, na infância, e escrevia poemas) e que foi o primeiro negro de grande reconhecimento popular neste país.
Também havia o preconceito de cor que tanto sofreu nos vários lugares onde brilhou...Mas sobre isso não escreverei aqui. Nem de seus problemas pessoais. Quero brindar à vida e a presença de Otelo na história do teatro, da TV, do cinema e do meu imaginário.
Quero brindar a Otelo em "Macunaíma", que segundo uma sintética e sensível versão do próprio - um intelectual - e em entrevista não me lembro para quem, representava uma espécie de elo entre a chanchada e o cinema novo, dois grandes momentos do cinema brasileiro - por motivos opostos, e que, por ideologia e certo preconceito, não poderiam aproximar-se um do outro, na visão de muitos, mas que Joaquim Pedro de Andrade soube combinar, vendo na obra de Mário de Andrade, prospectada no Brasil profundo, um material que revela nosso espírito e vadio irreverente de país tropical e nossas mazelas e incoerências de povo colonizado.
Quero brindar a Otelo respeitado por Orson Welles, que disse que nosso Great Otelo (seu nome foi criado por Jardel Jércolis) era o melhor ator do mundo.
Voltando mais no tempo, quero fazer uma libação a Otelo em "Matar ou correr", "Dupla do barulho", até o Seu Eustáquio da "Escolinha do Professor Raimundo", programa da minha infância, em que Otelo não tinha um papel da sua estatura artística, mas que, de forma nostálgica, era como homenagem ao seu talento e verve pueril com aquelas caretas de antigas peças e filmes "Aqui! Qüi queres?").
Apesar do Brasil ser um país não muito afeito à memória do seus grandes nomes, o nome desse artista resiste, como no texto deste fã que se tornou artista tendo-o como ícone. Resiste, apesar dos pesares, como o estado de precariedade do teatro que leva seu nome em Uberlândia (antiga Uberabinha), sua cidade natal.
Otelo é referência Artista que reunia as grandes "escolas" na fomação de ser de palco no Brasil e em qualquer lugar: o circo, o teatro, o cinema. Um dos maiores artista brasileiros do século XX.
Falar de Otelo é falar sobre o meu presente porque é das referências permanentes. Quando eu fazia o meu Saci, lá no Sítio do Picapau Amarelo, pensava muito nele!
Neste mês de outubro, no dia 18 de outubro, Grande Otelo, se vivo estivesse, faria 100 anos. Mas, com todo o seu legado, quem disse que ele não está entre nós!
Também havia o preconceito de cor que tanto sofreu nos vários lugares onde brilhou...Mas sobre isso não escreverei aqui. Nem de seus problemas pessoais. Quero brindar à vida e a presença de Otelo na história do teatro, da TV, do cinema e do meu imaginário.
Quero brindar a Otelo em "Macunaíma", que segundo uma sintética e sensível versão do próprio - um intelectual - e em entrevista não me lembro para quem, representava uma espécie de elo entre a chanchada e o cinema novo, dois grandes momentos do cinema brasileiro - por motivos opostos, e que, por ideologia e certo preconceito, não poderiam aproximar-se um do outro, na visão de muitos, mas que Joaquim Pedro de Andrade soube combinar, vendo na obra de Mário de Andrade, prospectada no Brasil profundo, um material que revela nosso espírito e vadio irreverente de país tropical e nossas mazelas e incoerências de povo colonizado.
Quero brindar a Otelo respeitado por Orson Welles, que disse que nosso Great Otelo (seu nome foi criado por Jardel Jércolis) era o melhor ator do mundo.
Voltando mais no tempo, quero fazer uma libação a Otelo em "Matar ou correr", "Dupla do barulho", até o Seu Eustáquio da "Escolinha do Professor Raimundo", programa da minha infância, em que Otelo não tinha um papel da sua estatura artística, mas que, de forma nostálgica, era como homenagem ao seu talento e verve pueril com aquelas caretas de antigas peças e filmes "Aqui! Qüi queres?").
Apesar do Brasil ser um país não muito afeito à memória do seus grandes nomes, o nome desse artista resiste, como no texto deste fã que se tornou artista tendo-o como ícone. Resiste, apesar dos pesares, como o estado de precariedade do teatro que leva seu nome em Uberlândia (antiga Uberabinha), sua cidade natal.
Otelo é referência Artista que reunia as grandes "escolas" na fomação de ser de palco no Brasil e em qualquer lugar: o circo, o teatro, o cinema. Um dos maiores artista brasileiros do século XX.
Falar de Otelo é falar sobre o meu presente porque é das referências permanentes. Quando eu fazia o meu Saci, lá no Sítio do Picapau Amarelo, pensava muito nele!
Neste mês de outubro, no dia 18 de outubro, Grande Otelo, se vivo estivesse, faria 100 anos. Mas, com todo o seu legado, quem disse que ele não está entre nós!
Nenhum comentário:
Postar um comentário