quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Elisabeth Bishop

Uma arte

A arte de perder não é nenhum mistério;
tantas coisas contêm em si o acidente
de perdê-las, que perder não é nada sério.

Perca um pouquinho a cada dia. Aceite, austero,
a chave perdida, a hora gasta bestamente.
A arte de perder não é nenhum mistério.

Depois perca mais rápido, com mais critério:
lugares, nomes, a escala subseqüente
da viagem não feita. Nada disso é sério.

Perdi o relógio de mamãe. Ah! E nem quero
lembrar a perda de três casas excelentes.
A arte de perder não é nenhum mistério.

Perdi duas cidades lindas. E um império
que era meu, dois rios, e mais um continente.
Tenho saudade deles. Mas não é nada sério.

- Mesmo perder você (a voz, o riso etéreo
que eu amo) não muda nada. Pois é evidente
que a arte de perder não chega a ser mistério
por muito que pareça (Escreve!) muito sério.

3 comentários:

bia kleber disse...

O mistério é o perder enquanto condição do ganhar

O mistério é ganhar naquilo que só ficou pois não se perdeu

O mistério é perder no não perdido

Aceitar reinventar
Incessantemente

A perda enquanto ganho

(Encontro)

César Cardadeiro disse...

Sempre gostei da sua arte, Dahora.

Unknown disse...

perdi um fim de semana e as cartas, duas noites de abril, e um rio,
perdi um olhar que era o meu vestido
e um nome,
que era só meu

annabel