quarta-feira, 11 de julho de 2012

Lacan em versos ou "arrancar poemas presos"

Ando lendo - muito - para minha pesquisa de mestrado. Evidente. Investigando nas últimas semanas as abordagens psicanalíticas para o corpo, achei muito impactante em Lacan, via J. -D. Nasio, mais precisamente quando o psicanalista francês apresenta o conceito "gozo" e seu intérprete, Nasio, desenvolve-o em 5 lições sobre a Teoria de Jacques Lacan

Gozo (essa energia fundamental cujo lugar é o corpo e que é responsável por nos conferir ânima - seja alegria, seja dor e sofrimento). Nasio relata o caso de uma paciente e nos fala do gozo como presente também nos tumores, do gozar do tumor. E esta imagem é tremendamente forte! Mas, em certo sentido, até trivial do ponto de vista científico, claro. Afinal, tumor é relevo, sinal (ou sintoma) de células que como nós possuem vida. Só que são vidas nocivas para os nossos órgãos e sistemas. Tumor como corpo gozoso que se infesta.

O fato é que daí lembrei de dois poemas da admirável filósofa e poeta Viviane Mosé que li há alguns anos em Pensamento chão - poemas em prosa e verso. Seus versos nos fazem estarrecidos diante de sua coragem de tratar com contundência opinativa tema tão espinhoso e doloroso, mas, em três poemas sequenciais, parece nos dar uma possibilidade, como todo ser poeta sensível.

A maioria das doenças que as pessoas têm
São poemas presos.
Abcessos, tumores, nódulos, pedras são palavras
Calcificadas,
Poemas sem vazão.

Mesmo cravos pretos, espinhas, cabelo encravado.
Prisão de ventre poderia um dia ter sido poema.
Mas não.

Pessoas às vezes adoecem da razão
De gostar de palavra presa.
Palavra boa é palavra líquida
Escorrendo em estado de lágrima


Lágrima é dor derretida.
Dor endurecida é tumor.
Lágrima é alegria derretida.
Alegria endurecida é tumor.
Lágrima é raiva derretida.
Raiva endurecida é tumor.
Lágrima é pessoa derretida.
Pessoa endurecida é tumor.
Tempo endurecido é tumor,
Tempo derretido é poema.


Receita para arrancar poemas presos:
Você pode arrancar poemas presos com pinças,
Buchas vegetais, óleos medicinais,
Com as pontas dos dedos, com as unhas.
(...)

Mas não use bisturi quase nunca.
Em caso de poemas difíceis use a dança.
A dança é uma forma de amolecer os poemas,
Endurecidos do corpo.
(...)

                    (Viviane Mosé)

P.S.: Esta postagem dedico à minha querida amiga que não vejo há muito tempo, Annabel Albernaz. Foi com ela, na época da graduação em Teatro, na Unirio, que aprendi a conhecer (ainda que de longe) o pensamento psicanalítico e lacaniano, no qual agora me aventuro com um pouco mais de profundidade, porém sem a erudição da minha amiga neste domínio. Annabel, um beijo.

quarta-feira, 14 de março de 2012

Livreiros!

O que seria das nossas vidas sem os livreiros? Nas livrarias que frequento sei o nome de cada um deles. Bons amigos que se tornam após tanto enchermos a sua paciência. Amizades que se criam em papos ao mesmo tempo informais e cultos sobre e próximo às páginas dos livros. 


14/03: DIA DO LIVREIRO! Ele também tem um dia para chamar de seu! Viva!


- Deus, livrái-los de todo mal. Amém!


P.S.: O meu abraço todo especial aos livreiros da Livraria da Travessa (da Sete de Setembro, Rio) que me aguentam: Leila, Marcos, Luiz Claudio... E a todos os da Travessa da Rua do Ouvidor, Rio Branco, Barra; da Leonardo da Vinci; dos sebos do Centro do Rio, com ênfase para os de arredores da Praça Tiradentes!  

P.S2.: Abaixo, a homenagem do escritor Xico Sá no blog da Folha de São Paulo a todos os livreiros.